sábado, 19 de março de 2011

Considerações Gerais sobre o Ensino de Geografia.


A Geografia torna-se ciência somente no século XIX, mas o conhecimento geográfico remota há tempos muito distante, noções gerais de orientação, localização e caracterização de lugares compunham uma série de raciocínios que mais tarde vinha a serem sistematizados e denominados ciência, Geografia.

É bem provável que a Geografia tenha sido uma das ciências que registre o maior número de dicotomias, conflitos metodológicos que refletem diretamente nas pesquisas, núcleos de estudos e objetos de análises, e, por conseguinte no seu ensino/aprendizagem na Educação Básica.

Outra noção óbvia é que as mais apuradas análises geográficas estiveram ao longo da história aliadas a construção de projetos ligados aos setores hegemônicos das sociedades, sendo utilizada para manipular, controlar e a restrição do desse conhecimento para promover uma percepção míope do espaço como denunciou Lacoste na década de 1970.

Com isso, uma série de fatores influi diretamente na construção de uma educação geográfica para o ensino formal proposto pelo Estado Moderno. Desde a construção de discurso cívico, por meio de elementos simbólicos como bandeira, território, hino, Estados, caracterização e regionalização. Até as dicotomias reservadas  ao longo de séculos de pesquisas que garantem uma diversidade ao ensino de geografia que chega a ser perigosa ao aproximar-se do ecletismo.

Essa diversidade de exercício de influência sobre a construção da educação geográfica básica criou, claro, com intencionalidades específicas, um discurso educacional generalista e inútil, alicerçada em um currículo que trabalha a geografia como algo completamente distante do cotidiano, fazendo do estudo da disciplina seja enfadonho e chato e que o conhecimento geográfico esteja cada vez mais distante da população em geral.

É muito comum receber o silêncio como resposta ao fazer dois questionamentos a educandos de níveis avançados da educação básica: em que você utiliza e geografia em sua vida? E, pra que serve a Geografia?

A utilização da matemática, química ou biologia é bem mais facilmente mensurável, mas parece que a geografia é estudada somente para decorar alguns elementos generalistas de caracterização de alguns locais, bem como aspectos gerais de relevo, clima, etc. e de nada serve em seu dia-a-dia. 

Um bom exemplo para compreendermos esse massacre ao conhecimento geográfico na educação básica é analisarmos rapidamente as formas de abordagem de conteúdos nas séries finais do ensino fundamental, 8º e 9º ano. Na tentativa de desenvolver habilidades ligadas à compreensão totalitária e conjuntural das relações locais, regionais e globais e o processo de desenvolvimento recente do capitalismo (isso é o que se pretende pelo menos), faz-se em geral nos livros didáticos, principal proposta para auxílio do professor no processo educativo, um conjunto de informações de alguns países e continentes em abordagem que lembra muito os catálogos de destinos das empresas de turismo internacional, recheados de fotografias dos lugares, com descrição breve de alguns aspectos físicos e históricos de cada país, tentando executar uma analise conjuntural compreensível para o nível cognitivo dos educandos, mas fazendo na realidade tópicos que pouco nos dirão sobre a complexidade das relações políticas econômicas e culturais no mundo contemporâneo.

Essas práticas são muito comuns no cotidiano da educação em geografia e culmina na trágica situação desconhecimento total dos elementos metodológicos utilizados pela ciência geográfica para o entendimento da realidade.

A vida, as ruas, os guetos, os ritos, as concepções dos educandos que compõem o alvo central das práticas educativas são completamente negligenciados, é como se a construção do espaço geográfica não passasse por aqui, como se os fatos que políticos, econômicos e culturais que fazem o mundo globalizado não afetassem em nada a vida real das pessoas.

Um novo tratamento aos processos de ensino/aprendizagem em geografia urge frente à necessidade de se construir uma sociedade com bases mais justas. Práticas que esquentem as aulas de geografia e abordem as formas de vida das pessoas e a organização de seus espaços. É preciso deixar claro que o conhecimento geográfico confere poder no processo de se pensar e transformar (ou manter) a realidade.


Professor Anderson Camargo.